quinta-feira, 24 de julho de 2014

Sabatina de Aécio Neves dia 16 de julho na Folha/Uol/Jovem Pan/SBT

Transcrição completa da Sabatina de Aécio Neves dia 16 de julho na Folha/Uol/Jovem Pan/SBT

Vale a pena ler, pois foi um verdadeiro show.


  O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, afirmou nesta quarta (16) que, se for eleito, irá manter e "aprimorar" programas sociais que "vêm dando certo", como o Bolsa Família. Em relação ao Mais Médicos, vitrine do PT na área da saúde, prometeu rever normas para igualar os salários dos profissionais estrangeiros. Para isso, precisaria romper e renegociar as regras atuais, já que os profissionais de Cuba, que são maioria, recebem apenas parte do valor pago pelo governo –o Estado cubano fica com o restante.

 Em sabatina realizada pela Folha, UOL, SBT e rádio Jovem Pan, Aécio admitiu ainda rediscutir o modelo adotado para explorar o petróleo do pré-sal.Aécio se preparando para a Sabatina Folha Aécio se preparando para a Sabatina Folha - Uol - SBT - Rádio Jovem Pan[/caption]

Acesse a página especial da sabatina da Folha com Aécio Neves - http://bit.ly/sabatinaaecio

Ricardo Balthazar (Folha) - Eu queria começar com uma pergunta sobre o seu programa de governo. Em um jantar com empresários há algum tempo atrás, o senhor disse que estaria preparado para tomar medidas impopulares, se necessário, arrumar a economia, se for preciso, sem demora. Mas o senhor até agora não indicou com muita clareza que medidas seriam essas. Então, queria aproveitar essa oportunidade para explorar alguns temas com o senhor. Por exemplo, o caso da previdência social, que tem um déficit crescente e até mencionada no seu programa de governo. O senhor diz ali que, basicamente, tudo vai se resolver com o crescimento da economia. Mas os especialistas apontam várias distorções que têm contribuído para aumentar os gastos da previdência. Vou citar apenas duas e queria saber a opinião do senhor. Idade mínima: no Brasil você não tem um teto, um limite de idade mínima, as pessoas podem aposentar com 50 e poucos anos, ganhar aposentadoria do governo em idade ativa. E muitas pessoas também ganham pensão por morte, embora estejam jovens e ativas, e ganham pensão do governo mesmo assim. O senhor vai fazer alguma coisa pra corrigir essas distorções?

Aécio Neves - Quero agradecer a você Balthazar, aos jornalistas que participam desse encontro, essa plateia extremamente qualificada que veio aqui nos ouvir e vou responder de forma bastante objetiva. O que eu disse, não apenas nesse jantar, mas em todos os encontros dos quais eu tenho participado, que eu vou tomar as medidas necessárias pra recolocar o Brasil no rumo do crescimento sustentável, com controle da inflação e com ampliação e melhoria dos nossos indicadores sociais. As medidas impopulares, o mal, tá sendo feito por esse governo. O Brasil vive hoje um processo de "estaginflação" absolutamente claro. Crescimento fraco, PIB pífio, nós cresceremos menos que todos os nossos vizinhos, na nossa região 1% esse ano, com inflação no teto da meta, já ultrapassando do teto da teta, inflação desses últimos 12 meses já ultrapassa o teto da meta e sem que o governo não acene de forma absolutamente clara em relação a medidas que tomaria no futuro pra reverter esse quadro extremamente perverso. Vocês certamente acompanharam as diretrizes do nosso programa de governo e ali cita alguns dos seus pontos, e nós tomamos o cuidado de fazer um trabalho extremamente amplo. Ouvindo setores dos mais diversos da sociedade brasileira, sem dúvida alguma as nossas diretrizes aprofundaram a níveis que não são comuns na história eleitoral brasileira e eu acredito firmemente que nós vamos encontrar o caminho da retomada do crescimento da nossa economia a partir do resgate da falta de credibilidade que existe hoje. O Brasil vive um processo de perda crescente da credibilidade. Portanto, resgatar a credibilidade dos investidores, com a política fiscal absolutamente transparente e, ao mesmo tempo, austera. Pode ser o caminho, o prenúncio do início de um novo ciclo no Brasil. Em relação objetivamente à questão previdenciária, eu participei, enquanto governador de Estado, de pelo menos seis reuniões com o então presidente da República, ao lado de inúmeros outros governadores de Estado, discutindo o tema previdência. E estabelecemos um caminho, novas regras para aqueles que entrem no setor público. O que não se pode fazer é cortar direitos adquiridos, até porque do ponto de vista legal, isso é impossível. Mas novas regras para o futuro devem e serão discutidas à luz do dia. Mas, obviamente, com a legitimidade de quem vier a ganhar as eleições.   

Josias de Souza (UOL) - Quais regras especificamente, senador? Novas regras terão que ser discutidas. Aqui citou-se um exemplo, essas aposentadorias, essas pensões por morte. Há um certo exagero nisso. É uma delas. Terá que ser discutido com a sociedade. Não é assim imposto por um governo. Eu acho que qualquer governo responsável terá que discutir, fazer essa reforma. Mas um conjunto de reformas que foram sucessivamente adiadas por esse governo. Na verdade, as últimas grandes reformas que ocorreram no Brasil ocorreram no governo do presidente Fernando Henrique. De lá pra cá, houve o adiamento sucessivo dessas reformas por uma razão, Balthazar. Sempre que o governo encontrava um contencioso, sempre que o governo percebia que isso contrariava algum dos seus núcleos de apoio ou simpatizantes, essas propostas eram arquivadas. Isso ocorreu com a tributária, com a previdenciária, com a reforma política, com a própria reforma do Estado brasileiro. Essa conjunção de fatores, essa incapacidade do governo de ter um protagonismo na construção dessa agenda certamente ajudou com que chegássemos até aqui.

Sabatina com Aécio Aécio Neves foi claro e direto em suas respostas

 Ricardo Balthazar - E essa questão da idade mínima? O senhor acha que está na hora de fixar idade mínima para aposentados no setor privado, assim como em outros países? Não temos decisão em relação a isso, sinceramente não temos. Essa discussão vai ocorrer no tempo certo.

 Josias de Souza - O senhor disse que o programa foi aprofundado de maneira inédita, né. Há muita coisa hermética no vosso programa de governo, se me permite dizer. Há uma tese segundo a qual, os economistas costumam mencionar isso, queria saber se o senhor concorda que numa situação como a que nós estamos hoje, é um prenúncio de ajustes que são necessários, a situação pode piorar antes de melhorar. E os candidatos, de maneira geral, o senhor especificamente, tem acenado com os ajustes, vamos fazer os ajustes, mas o senhor tem omitido essa fase da piora momentânea que terá que ocorrer antes que a situação melhore. Além desses ajustes previdenciários, há tarifas que estão represadas, que vão precisar ser incorporadas aos preços das tarifas públicas. E há uma intenção sua de elevar a taxa de economia que o governo faz para pagar a sua dívida, o superávit fiscal. De onde o senhor vai cortar para elevar o superávit? E o senhor concorda com a tese de que vai piorar antes de melhorar? São duas partes. Primeiro, apenas para que fique muito claro, nós não apresentamos o programa de governo. Apresentamos diretrizes de governo. E essas diretrizes nossas foram extremamente aprofundadas, repito o que disse inicialmente. E é fácil, é só comparar com tantas outras que foram apresentadas, tanto no passado, elas chegam a um nível de detalhamento, a um conjunto de intenções e apontando até mesmo caminhos, o que não é comum na história eleitoral brasileira. Enfim, fiz isso de forma proposital. Acho importante que as pessoas antecipadamente conheçam que caminho qual candidato, se vencer as eleições, ou eventualmente vencendo as eleições vai percorrer. Eu não acredito que, com a nossa vitória, e vou falar de forma absolutamente franca, haverá uma piora. Haverá uma melhora. Porque a economia, Josias, é expectativa. Economia é perspectiva. Inflação também é perspectiva. Eu volto um pouco no tempo, vocês se lembrarão e concordarão comigo. Em 2002, quando houve a vitória do presidente Lula, pela incerteza que aquela vitória gerava naquele instante no país, nós tivemos uma explosão dos índices inflacionários, o dólar também subiu e houve uma insegurança tão grande que foi depois, de alguma forma, contida pelo presidente Lula ao desconhecer o seu discurso de campanha, manter inalterados os pilares macroeconômicos que herdou do governo Fernando Henrique. Metas de inflação, câmbio flutuante, superávit primário, ainda na era Palocci e trouxe novamente segurança aos mercados. Uma vitória do PSDB gerará um efeito inverso. Estou absolutamente convencido disso, essa avaliação tem sido feita por nós, não apenas internamente mas inclusive com analistas de fora do Brasil. Pela clareza das nossas convicções, pelo histórico daqueles que estão ao nosso lado. Não é imperceptível aos brasileiros que eu tenho deixado claro que tenho algumas figuras que estão ao nosso lado na construção, vamos chamar, desse arcabouço de programa econômico. E é exatamente esse cenário de resgate da credibilidade, de uma política fiscal absolutamente transparente, de combate à inflação focada no centro da meta, tudo isso, acredito eu, gerará um ambiente propício para que nós possamos efetivamente encontrar sim caminhos para termos um superávit, não como vem existindo, de forma, eu diria até, entre aspas, "fraudada". Porque eles são obtidos com receitas que não são recorrentes, como aconteceu no ano passado. Nós tivemos um superávit de 1,9%. Metade disso foi a soma de refis e libra. E você colocar aí um 0,3% de adiamento de despesas do governo do ano de 2013 para esse ano. O que nós queremos são regras claras. Para que as pessoas percebam, lá na frente, qual o ambiente que nós estamos construindo. Porque, como o governo agiu até aqui, sobretudo em relação à questão inflacionária, acho que com absoluta leniência, ele na verdade estimula a inflação futura. Há uma inflação represada hoje. Porque nós sabemos, além dos preços represados, nós temos inflação de alimentos, Josias, já tá há mais de um ano em mais de dois dígitos nas regiões metropolitanas do país. Ou senhor corta ou o senhor aumenta impostos. Ou eu cresço. Ou eu cresço. E eu vou no caminho do crescimento.


 Kennedy Alencar (SBT) - O Brasil nos últimos anos tem convivido com uma taxa de crescimento baixa e uma inflação alta. O senhor falou que tomaria medidas impopulares se fossem necessárias, o governo rapidamente começou a fazer um discurso de que a sua candidatura vai representar um sacrifício da renda e do emprego. O Eduardo Campos ontem, aqui na sabatina, indagado sobre medidas na economia, foi muito cauteloso. O senhor também tem sido cauteloso. Pergunto ao senhor: não há aí um jogo de esconde-esconde do governo e da oposição em relação à economia, que parece ser o principal debate, mas ninguém quer ser claro sobre o que vai fazer. O governo não admite que depois talvez terá que fazer um ajuste. O senhor sinaliza, mas não detalha. Então queria perguntar claramente para o senhor: que meta de superávit primário que o senhor teria, se vai ter algum espaço pra elevar em relação aos 2,5% atual, se a sua política de juros vai ser mais alta, quais vão ser as medidas impopulares que o senhor vai tomar, se o senhor pode falar. Ou o senhor prefere, por uma tática eleitoral, omitir isso do eleitor agora? Olha, Kennedy, não existem medidas impopulares, tá virando quase que uma lenda. São medidas necessárias, que qualquer governo responsável terá que tomar. Repito: as medidas impopulares foram tomadas por esse governo. No jantar, o senhor usa a expressão "medidas impopulares". Eu tomarei as medidas necessárias. Vamos lá, vamos dizer que sejam impopulares, não lembro do termo que eu tenha usado. Eu vou tomar as medidas necessárias, botar o nosso Brasil no caminho do crescimento. Você sabe quem é mais penalizado por essa política econômica desastrosa do governo federal? São aqueles que o governo julga proteger. Você sabe qual vai ser o reajuste real do salário mínimo neste ano que nós estamos aqui, e que ninguém muda isso? De 1%. Imagina, Kennedy, alguém propor isso no início de um governo. O reajuste do salário mínimo vai ser de 1%. É a esse cenário nos trouxe o governo. Olha, só pra ficar claro, naquele jantar lá, o senhor disse assim: "estou preparado para tomar as decisões necessárias, por mais que elas sejam impopulares. Se o preço for ficar quatro anos com impopularidade, pagarei esse preço. Que venha outro depois de mim". Certamente eu não fui nesse jantar e disse uma frase, né, um raciocínio muito mais amplo do que esse. O que eu quis dizer aqui, e repito de forma muito clara, Kennedy, eu não vou governar com os olhos nas curvas de popularidade. Esse foi um mal que aconteceu com o Brasil. O presidente lula, por quem eu tenho um respeito pessoal, teve, num determinado momento do seu governo, de 2003 até o início da crise, em 2008, um período raríssimo que pouquíssimos outros governantes vão encontrar, não só no Brasil, mas na história de qualquer país. Um tripé de economia crescendo, um fluxo amplo de recursos chegando ao Brasil, uma ampla base de sustentação no Congresso, quase que infinita, era o que ele quisesse, e uma popularidade pessoal estratosférica. Se tivesse havido ali responsabilidade política, vontade e coragem pra fazer as intervenções necessárias e as reformas necessárias, o Brasil estaria numa situação muito diferente daquela que está hoje. Eu estou hoje disputando a Presidência da República não para dar uma vitória ao meu partido, aos meus companheiros. Mas por perceber que mais quatro anos desse governo do PT serão extremamente danosos ao Brasil. Mas haverá sacrifícios, senador? Porque assim, se repassa as tarifas que estão represadas, se traz a inflação de volta pro centro da meta, se faz mais superávit, isso impacta renda e desemprego, dizem todos os economistas, de todas as correntes. Esse é o discurso do terrorismo. Se você combate a inflação, você gera desemprego. É uma grande bobagem, como se inflação gerasse emprego. Volta nos tempos da hiperinflação, né, nós não tínhamos pleno emprego. Ao contrário, o que o Brasil mais anseia o que os analistas de mercado, o que os investidores, em especial, esperam é que o governo estabeleça regras absolutamente claras, políticas e ambiência. Nós vamos criar condições para que os investimentos retornem ao Brasil com regras absolutamente claras. Uma palavra-chave no nosso governo, Kennedy, será previsibilidade. Em absolutamente todas as áreas. O Brasil tem um potencial de desenvolvimento e de crescimento extraordinário e o que acontece hoje? Nós últimos quatro meses, a Fundação Getúlio Vargas, vocês acompanham isso, todos os indicadores sucessivamente mostram o quê? Desconfiança do setor produtivo, da indústria, de serviços e de comércios. A cada mês que passa, aumenta essa desconfiança. E a eleição de um governo do PT, aí sim, nós teremos lá na frente, resultados impopulares. Repito, a impopularidade é o governo que criou e, por isso mesmo, mais de 70% da população quer mudanças e eu estou entre esses mais de 70% que quer mudanças e acho que a gente tem as melhores condições, não só de vencer as eleições, também de vencer as eleições, mas de implementar as mudanças que o Brasil precisa.   Patrick Santos (Jovem Pan) - Um assunto específico dentro dessa questão econômica também o senhor vem criticando muito também a questão energética do país. E dentro dessa dificuldade pra economia do próximo ano, como é que o senhor vai lidar praticamente com esse aumento obrigatório das distribuidoras de energia totalmente endividadas e ter fôlego pra continuar investindo? Eu queria que o senhor desse um exemplo de como o senhor vai fazer nessa questão que de fato é a grande preocupação também na área de infraestrutura. Certamente, essa foi uma das mais perversas ações do governo federal. O intervencionismo do setor da da presidente da República, quase que pessoal, a um setor que dizia conhecer com profundidade, custa hoje do Tesouro, portanto, aos contribuintes alguma coisa em torno de R$30 bilhões. Esse é o custo dessa desastrada intervenção, que retirou capacidade de investimentos de um setor essencial para a retomada do crescimento da economia, ninguém cresce sem gerar energia. E a incapacidade de gestão do governo, você alia esse intervencionismo. O Brasil é hoje um cemitério de obras abandonadas espalhadas por toda parte. Tá, mas o que o senhor vai fazer? Regulação. Regras absolutamente claras. Nós temos que voltar a atrair capital para investimentos em energia e obviamente vamos explorar as energias alternativas. Eu cito exemplos absolutamente claros aqui pra você: gás. Eu estimularei, presidente da República, parcerias da Petrobras com empresas, como aconteceu nos Estados Unidos, com empresas médias, na exploração de gás. Uma vertente importante energética. Nós temos aí no Brasil algo que é tragicômico porque é inaceitável. Nós temos parques eólicos estruturados sem geração de energia, por quê? Porque não houve planejamento, porque não foi feita ligação com o sistema. É preciso que nós exploremos outras fontes de energia, de energias renováveis. O Brasil jogou fora um programa que talvez seja a maior das fronteiras que nós conseguimos atravessar em relação ao mundo, que é o programa do etanol, não é? E obviamente, eu tenho dito, enfim, já é um compromisso claro um resgate deste programa seja pela questão ambiental, pela questão econômica e pela questão social, já que emprega mais de dois milhões de pessoas. Nós temos aí um desperdício do bagaço de cana pela incapacidade do governo de explorar o potencial enorme que o Brasil tem de energias alternativas.

 Ricardo Balthazar - Ok, candidato. Antes da próxima pergunta, eu gostaria de introduzir uma pergunta que foi coletada pelo UOL. Eleitor - Candidato Aécio, eu gostaria de saber como o senhor vai trabalhar com os programas sociais que já estão em andamento no governo atual.

 Ricardo Balthazar - Você quer complementar? O Kennedy tem uma pergunta pra complementar.

 Kennedy Alencar - Sobre o programa Mais Médicos, senador, o senhor tem dito que pretende padronizar a remuneração dos médicos cubanos em relação aos demais médicos estrangeiros. Em um ano de programa, a gente tem hoje no Brasil cerca de 14.400 médicos estrangeiros atuando no país. Desses, 11.400 são cubanos, ou seja, a grande maioria. A contratação dos cubanos é feita por intermédio da Opas, que é a Organização Panamericana de Saúde, que recebe mais ou menos R$ 10.400 por médicos, repassa pro governo cubano, que dá ao médico cubano R$ 3.000. Como é que o senhor pretende fazer para fazer uma equiparação? Vai gastar mais com o programa, vai mudar as regras do programa? Vamos lá, a primeira parte. Política e administração pública é você copiar as coisas que dão certo e aprimorá-las. Os programas sociais que vem dando certo serão não apenas mantidos por nós, mas aprimorados por nós. Vou especificamente num que é sempre objeto de questionamentos, sobretudo durante a campanha eleitoral, pelo terrorismo que o PT faz em relação a ele. O Bolsa Família no nosso governo vai continuar, o que eu quero é tirá-lo da agenda eleitoral porque quem é punido é o destinatário desse programa com a aflição que é gerada pela irresponsabilidade e leviandade do PT. O que eu quero é transformá-lo em programa de Estado e apresentei uma proposta em relação a isso e, pasmem os senhores, quem votou contra foi o PT, que prefere ter um programa pra chamar...

 Ricardo Balthazar - Na verdade, incluir o programa na lei não faria muita diferença... Não, faria muita diferença. Só por essa diferença já justificaria, mas existem outras. Tira o programa da agenda eleitoral. Ele é hoje um programa de governo subordinado a uma secretaria dentro de um ministério, regulado por decreto. Eu quero equipará-lo, a coloca-lo na Loas (Leis Orgânicas de Assistência Social), como a erradicação ao trabalho infantil, do programa de... foram várias perguntas deixa eu responder uma de cada vez...

 Kennedy Alencar - E o Mais Médicos? Uma de cada vez, vou chegar nela. Junto ao programa de prestação de benefício continuado para idosos acima de 65 anos com renda baixa, então, coloca-lo nessa categoria é tirá-lo realmente da agenda eleitoral e criar aprimoramentos. Eu acho, por exemplo, amanhã, que uma família que recebe bolsa família e que o pai volte a estudar, ele deveria receber um "plus" pra estar estimulado a estudar. Um aluno de uma família do Bolsa Família que uma média acima de determinado nível, sete, por exemplo, tô aqui fazendo apenas uma sugestão, deve receber um "plus" a mais. Nós temos que induzir essas pessoas a estarem se qualificando pra que, aquilo que eu já disse mais de uma vez, não se repita, para que um pai de família não tenha apenas como herança deixar ao seu filho o cartão do Bolsa Família. Então, os programa que vem dando certo eu não tenho o menor constrangimento em mantê-los e aprimorá-los. Quem não gosta de reconhecer virtude nos outros é o PT. Que, por exemplo, desconhece que o programa Bolsa Família é originário, tá aqui nosso companheiro, saudoso José Serra, que se lembra muito disso porque criou o bolsa-alimentação, que ele é originário do bolsa-alimentação, do bolsa-escola, do vale-gás. E já herdou inclusive o cadastro único. Então, esses programas vão avançar no nosso governo, porque nada pune mais quem recebe programas de transferência de renda do que o baixo crescimento da economia e do que a inflação recrudescida. Respondo objetivamente, Kennedy, a questão dos Mais Médicos. Mais Médicos é importante sim. Não tem por que não reconhecer. Agora trata-lo como uma panaceia, como uma solução para todos os problemas de saúde no Brasil não é justo para com os brasileiros. O governo do PT assumiu em 2003. O governo gastava, Kennedy, 54% de tudo que se investia em saúde no Brasil, 54%. Passaram-se 11 anos do governo do PT, hoje a participação do governo federal é de apenas 45%. 13.000 leitos hospitalares foram fechados ao longo dos últimos três anos no Brasil. As Santas Casas de Misericórdia...deixa eu fazer um quadro de como é a saúde, porque eu compreendo a saúde de forma muito mais ampla do que o Mais Médicos. As Santas Casas, com exceção de São Paulo e algumas outras pela ação do governo do Estado, estão em situação falimentar pelo Brasil inteiro. Não houve um planejamento do governo em relação à questão da saúde. 

Ricardo Balthazar - Mas como é que vai manter a escala do programa... Acho que a pergunta do Kennedy era mais precisa, né, como manter a escala do programa Mais Médicos... Eu vou chegar lá...

 Kennedy Alencar - 80% dos médicos do Mais Médicos são cubanos. Se o senhor for aumentar a remuneração, ou vai gastar mais ou vai mudar a regra. Porque vai abrir mão dos médicos cubanos. Posso responder agora? Por favor. Por que que os médicos cubanos recebem uma remuneração em torno de 20% dos médicos daquilo que o Brasil paga? Porque o Brasil se submeteu a esse acordo. Nós temos que rever esse acordo. Ponto 1: Mais Médicos. O que eu não permitirei, em primeiro lugar, é que haja discriminação em relação aos médicos cubanos. Os médicos estrangeiros são bem-vindos ao Brasil. No nosso governo, o Brasil vai criar condições, cursos para qualificação desses médicos para que eles se submetam ao Revalida e vai garantir no entendimento, na força do governo brasileiro, que eles recebam a mesma remuneração que recebem médicos de outros países. Mas o governo cubano tem que concordar, se não concordar... os médicos cubanos vão ter que... Eles vão pra onde? Por que que nós é que temos que concordar com o governo cubano, não. O governo é que tem que concordar conosco. Olha o tamanho do Brasil, Kennedy, é estabelecer uma negociação em outro nível. Mas o governo cubano exporta isso como serviço. Como o Brasil exporta serviços de engenharia, é um exportação de serviços... Na verdade, é mais do que isso. O governo brasileiro financia o governo cubano com parte da remuneração dos médicos cubanos. Nós vamos financiar os médicos cubanos. Não o governo cubano. [Aplausos da plateia]

 Ricardo Balthazar - Eu peço que por favor a plateia se contenha um pouco porque a gente acaba perdendo tempo e explorando menos assuntos aí com essas manifestações.

 Josias de Souza - Agora estamos falando claro aqui. Com essa clareza, o que tá ficando evidente é que o programa Mais Médicos vai se inviabilizar na forma como ele está hoje. Porque a maioria dos médicos são cubanos. Se eles estão aqui... e aí você vai ter que complementar essa mão de obra. Ao contrário, Josias. Eu não acredito que você concordará que os médicos cubanos podem receber R$ 2.000 ou menos do que isso. Mas o que eu digo é o seguinte, o senhor diz: nós vamos manter o Mais Médicos, mas não é bem assim. Nós vamos manter os Mais Médicos, nós vamos criar condições pra que eles se qualifiquem e vamos estabelecer novas regras de negociação. Com médicos de outras partes, não de Cuba. Não, de Cuba. Vamos estabelecer pra essa associação latino-americana novas regras. Não vamos aceitar as regras que foram impostas pelo governo de Cuba. Vamos receber os médicos cubanos, vamos tratar de dar qualificação pra que eles possam se submeter ao Revalida e que vem ajudar o Brasil na área da saúde. Mas não vamos circunscrever, não vamos cometer o equívoco de circunscrever a questão da saúde pública ao Mais Médicos. Ela é muito mais ampla do que isso e passa obviamente por qualificação no financiamento e também, obviamente, por financiamento. Eu gostaria de mudar um pouco de assunto aqui, senador. O senhor falou aqui, e com razão, que o Datafolha aferiu isso, que 70% do eleitorado, um pouco mais, deseja mudança. Ontem, conosco aqui, conversando conosco, o candidato Eduardo Campos disse que o senhor representa a mudança conservadora. E o senhor costuma dizer que se considera uma mudança corajosa e segura. Quando diz que é uma mudança segura, o senhor está insinuando que Eduardo Campos é uma mudança insegura? Que é um tiro no escuro, é isso? Em primeiro lugar, Josias, você não vai me fazer brigar com o Eduardo. Ele pode querer brigar comigo, eu não vou brigar com ele. Olha, eu sou amigo do Eduardo antes da campanha eleitoral, fui amigo do Eduardo quando éramos governadores de Estado, recebi com muita alegria a visita da equipe do Eduardo no momento em que ele iniciava o seu governo para conhecer algumas das nossas experiências em Minas Gerais. Fico feliz de ver que algumas foram implantadas, continuo amigo do Eduardo, vou ser amigo na campanha e vou ser amigo no futuro. Porque alguém de bom senso pode achar que seja com a vitória dele, ele é um candidato competitivo, faz sua campanha adequadamente, ou com uma vitória nossa, nós não teremos que sentar na mesa para conversar sobre o Brasil lá adiante? É claro que teremos. Mas eu não vou fugir de responder à sua pergunta. O que eu acho é que esses conceitos, conservador, progressista, esquerda e direita, são conceitos muito abstratos hoje, com muito pouca conexão com a realidade. Quando eu vejo Eduardo considerar o PSDB um partido conservador porque se refere, na verdade, ao PSDB ou aos governos do PSDB, e ao mesmo tempo, apoiar os dois principais governadores do PSDB, eu tenho que compreender que isso é uma coisa boa, ser conservador, já que ele apoia o governador Geraldo Alckmin e apoia, com muita alegria nossa, o governador Beto Richa. Mas apenas me permita aqui mais uma ilação. Falando ainda de conceitos. Se nós com uma bancada tão qualificada como essa ou vamos buscar aqui numa universidade de pós-graduação, de ciência política, apresentar dois exemplos. Um governo que, por exemplo, abstraindo os nomes, se você colocasse para avaliação dessa bancada um governo que, por exemplo, propiciou os maiores lucros da história ao sistema financeiro. E colocasse em contraponto a ele um outro governo que colocou 97% das crianças na escola. E pedisse que fizesse a avaliação: qual que é de esquerda, qual que é de direita? Provavelmente a maioria iria dizer que o que propiciou lucros estratosféricos ao sistema financeiro seria de direita e o que investiu na educação, de esquerda. Nesse caso, o governo do presidente Fernando Henrique seria de esquerda e o governo da presidente Dilma e do presidente Lula, de direita. Isso apenas pra mostrar como são vagos hoje. O que eu quero é um governo efetivo, o que eu quero é um governo eficiente, um governo com coragem de fazer o que eu fiz em Minas Gerais, Josias. Eu recebi Minas com a pior situação fiscal dos últimos tempos, deixei Minas com a melhor educação fundamental do Brasil, com a melhor saúde da região Sudeste, com os melhores exemplos de parcerias com o setor privados. Nós não podemos é nos acomodar e achar que esse cemitério de obras inacabadas que se transformou o governo federal, essas obras com sobrepreço por toda parte. Esse descompasso entre o que se propõe e o que se cumpre seja normal, seja razoável. Isso não é razoável. E nós vamos mostrar isso vencendo as eleições.  

Ricardo Balthazar (Folha) - Ok, a gente precisa fazer uma pausa pro senhor respirar, a gente volta daqui a dois minutos.

Ricardo Balthazar - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é o principal fiador político da sua candidatura e o senhor tem feito algo que os outros candidatos do seu partido não fizeram: destacar o legado do governo dele, as realizações, e celebrar isso durante a campanha. No entanto, pesquisa Datafolha diz que 57% dos eleitores dizem que jamais votariam em alguém indicado por ele. O senhor vai mostrar o presidente Fernando Henrique na televisão, na propaganda eleitoral, pedindo voto para o senhor? Balthazar, em primeiro lugar, se esse número é real, é uma tremenda injustiça. O que o presidente Fernando Henrique fez pelo Brasil é o que possibilitou que o governo do presidente Lula existisse e tivesse os indicadores que teve. Não teria governo do presidente Lula sem o governo do presidente Fernando Henrique. Eu estou numa caminhada há algum tempo, tenho andado pelo Brasil e tenho conversado com muita gente. Mas eu vou confessar aqui a vocês: nada, absolutamente nada, do ponto de vista pessoal, tem me dado tanta alegria e tem me acrescentado tanto quanto a companhia do presidente Fernando Henrique. Fernando Henrique é um estadista. Fernando Henrique pensa o Brasil. As conversas que tenho com ele não incorporam ataques a quem quer que seja. É alguém que está pensando o Brasil, que traz a sua experiência de governo para o nosso projeto. Ele não só vai participar da campanha como já está participando. Fernando Henrique sete horas da manhã já está me mandando e-mail, sugerindo a leitura de algo, sugerindo uma palavra ou perguntando sobre alguma coisa. Isso pra mim é um combustível. É muito, muito importante. Eu sigo um pensador espanhol que, por acaso, é seu xará, chamado Baltasar Gracián, que dizia o seguinte: se você não pode ter sob seu domínio todo o conhecimento –e eu não tenho–, cerque-se dele. Eu tenho buscado fazer isso em todas as áreas.

 Kennedy Alencar - Mas o senhor acha que foi uma estratégia errada em eleições anteriores? Porque em 2010 o PSDB explorou muito pouco esse legado que o senhor está dizendo. Eu estou tentando construir a minha [estratégia]. Quem sou eu para julgar a dos outros.

 Josias de Souza - O senhor já disse em campanha que foi um equívoco na campanha de 2010. Momentos diferentes. Olha, vamos olhar para frente. O que eu vejo nesta campanha, volta e meia, é gente olhando para trás. Eu quero discutir o presente para construir o futuro. É isso que me faz estar aqui, é isso que me faz estar daqui a pouco em Brasília, no Senado, discutindo alguns temas, depois estar no Ceará e, no dia seguinte, em Santa Catarina. Eu quero é apostar no futuro. E não tenho dúvida em afirmar para vocês: quem tem a melhor condição de construir um projeto de futuro para todos os brasileiros, para fazer o Brasil crescer efetivamente, acabar com a inflação, ampliar os programas sociais –porque programas sociais não podem ser vistos apenas no âmbito das políticas assistencialistas, elas são importantes e vão continuar. Mas eu quero falar de educação de qualidade, de saúde de qualidade, de segurança pública...   Patrick Santos - Falando de programas sociais, Eduardo Campos incluiu em seu discurso de campanha a defesa do passe livre para estudantes. Ele afirmou que pretende colocar o tema em sua proposta de educação. O senhor acha que a proposta é viável? É factível? Em primeiro lugar, é preciso que as coisas fiquem muito claras: essa é uma responsabilidade municipal. Se o governo federal quiser subsidiar isso, tem que mostrar de forma muito clara de onde vai tirar esse recurso. Eu não acho justo. Não acho que seja prioridade brasileira, por exemplo, dar passe livre para o estudante de uma escola privada que paga R$ 3.000 de mensalidade. Não acho, está na minha concepção pessoal. Para o estudante de escola pública, é assunto para ser discutido, desde que haja um compartilhamento desse subsídio, de forma transparente, e a sociedade aprove que nós estamos tirando de determinado investimento para investir no transporte para o estudante de escola pública de baixa renda, como existem algumas experiências já no Brasil. Acho que é algo para ser discutido. Agora generalizar isso e dar um subsídio que é pago pelo conjunto da sociedade e de forma maciça pelos que menos têm para quem não precisa, eu não acho que deve estar na lista de prioridades.

 Josias de Souza - Houve nessa fase de composição de alianças certa falta de recato. Nesse intervalo, senhor mencionou uma frase e vou reproduzir suas aspas: "Muito mais gente já desembarcou e o governo não percebeu. Vão sugar um pouco mais. E eu digo para eles: façam isso mesmo. Suguem mais um pouquinho e venham para o nosso lado". Não foi da sua parte uma falta de recato? O senhor disse isso em uma semana em que o PR ameaçava, ouvindo o presidiário Valdemar da Costa Neto, desertar da Dilma para aderir à sua candidatura e só não fez isso porque a presidente, na última hora, tirou o ministro dos Transportes e devolveu ao PR. E o senhor ganhou a adesão do PTB, que migrou do governo para sua candidatura. Você me deu informações que eu não tinha, [não] dessa natureza. Que o PR ia aderir a mim. Eles disseram. Isso foi uma brincadeira, uma ironia. Nós temos que ter cuidado, eu confesso, com essas ironias. Eu fiz essa ilação a alguns jornalistas depois de uma entrevista, exatamente no dia em que eu recebi a notícia de que o governo estava demitindo um ministro para entregá-lo ao PR. O que eu disse foi o seguinte: já tem muito partidos que estão com o governo, mas [o governo] não vai ter o trabalho dessas pessoas. É gente que está sugando o governo. Eu reconheço que foi imprópria, mas não teve a menor importância isso. O importante é que o governo da presidente Dilma demitiu, para ter alguns segundos a mais de televisão, e era a isso que eu me referia –se foi impróprio eu reconheço–, um ministro por excesso de honestidade. Ela própria dizia que o ministro dos Transportes era um dos mais qualificados que ela tinha. Ela demite o ministro dos Transportes para acomodar alguns segundos a mais de televisão. Vou dizer o seguinte: recebi adesões. Recebo todas de braços aberto, sabe por quê? Porque eu não tenho o que dar a não ser futuro. Eu não tenho cargos para dar. Sabe o que eu estou dizendo a essas pessoas? Venham porque nós temos um projeto de futuro para o Brasil e se outras forças políticas... não só essas a que você se referiu, nós temos oito partidos que estão em nossa aliança: o Democratas, o Solidariedade, o PTB... Mas o PTB aderiu ao senhor porque representa, aos olhos do PTB, uma perspectiva de poder. Eles não viraram altruístas da noite para o dia. Mas que bom. Que venham conosco porque nós somos uma expectativa de poder. Eu acredito que somos mesmo. Agora não foi feita nenhuma troca, nem com eles, nem com ninguém. Primeiro, eu nunca fiz isso quando fui governador de Estado. Quem acompanhou nosso governo em Minas sabe disso. E, ao mesmo tempo, o que eu tenho a oferecer é futuro. O que eu vejo é que esses partidos, na verdade, se incorporam aos 70 e poucos por cento da população brasileira que querem mudanças e não acreditam que é bom para o Brasil que o governo continue nas mãos do PT.

 Ricardo Balthazar - Mas o PTB fez um almoço com a presidente Dilma, beijaram a mão na presidente, se comprometeram a dar apoio a ela e, um mês depois, mudaram de lado sem muita explicação. É difícil imaginar que em um mês eles tenham aprendido algo sobre o senhor, seu programa de governo e suas ideias que eles não soubessem ainda. Balthazar... Só para completar a pergunta: nas eleições de 2010, o PSDB repassou cerca de R$ 1,5 milhão para partidos que apoiaram a coligação. Isso está declarado nas prestações de contas, foi feito legalmente e é assim que as coisas são feitas. No seu caso, houve alguma negociação de recursos para ajudar o PTB na campanha? Absolutamente nenhuma. Se o PTB acha, nos seus estados, que é melhor estar conosco... Em São Paulo, maior estado brasileiro, o PTB está conosco a vida inteira. O seu presidente, Campos Machado,  é um aliado importante do governador Geraldo Alckmin como foi do governador José Serra. Em Minas Gerais, segundo estado mais populoso, o PTB está conosco desde o primeiro dia do meu governo, participando do meu projeto de governo. O presidente foi secretário de estado do meu governo. E há um conjunto de forças dentro do PTB que optou por essa posição. Não foi unânime, você deve ter tido notícias de que os setores do PTB aliados ao governo tentaram levá-los para o governo. Recebo aqueles que querem me ajudar a transformar o país e eles vão ter como troca um governo honrado, um governo digno, um país que cresça, que prospere e que as pessoas vivam melhor. E eles estão convidados a fazer essa travessia.   Kennedy Alencar - Na questão das alianças, o senhor foi presidente da Câmara e apoiou o Fernando Henrique, houve dois episódios: por exemplo, houve um acerto ministerial com o PMDB para que, numa convenção, Itamar Franco não fosse candidato e ficasse neutro na eleição. Na questão da compra de votos para aprovar a emenda da reeleição, que o Eduardo Campos igualou ao mensalão aqui nesta sabatina em termos de gravidade, o governo Fernando Henrique evitou uma CPI dando dois ministérios ao PMDB. Essa questão de troca de ministérios por apoio político não houve também no governo do PSDB que o senhor apoiou? Não dá para comparar essas coisas. Ali, o candidato, meu amigo Eduardo, cometeu uma injustiça. Essa denúncia da compra de votos foi investigada e foi arquivada porque não houve provas em relação a isso. Comparar com...

 Ricardo Balthazar - Não foi investigada, senador. A procuradoria arquivou todos os pedidos de investigação, não houve CPI. Porque não houve prova.

 Josias de Souza - Mas havia gravação. O meu sentimento: eu era congressista. Não houve isso, não houve nenhuma movimentação.


 Ricardo Balthazar - Em uma sabatina aqui neste mesmo teatro, em 2007, o próprio presidente Fernando Henrique admitiu a possibilidade de que tivesse compra de votos naquela votação, mas disse que nem ele, nem o governo, nem o PSDB tiveram nada a ver com isso... Mas se alguém recebeu de alguém um benefício pessoal, eu não sei. Mas foi investigado, Balthazar, e não foi encontrado nada. Como comparar isso com o mensalão? Meu Deus.

 Kennedy Alencar - Mas o mensalão foi investigado por um procurador-geral indicado e o mais votado da categoria. Não foi só um caso que o procurador-geral Geraldo Brindeiro [que esteve no cargo entre 1995 e 2003] arquivou, não é, senador? Ele ficou conhecido como o engavetador-geral da República. Eu não sou advogado de defesa do presidente Fernando Henrique Cardoso porque ele não precisa. A minha opinião, a do Aécio parlamentar, é de que não houve compra de votos para a reeleição do presidente da República. O Brasil e a maioria do Congresso queriam que o presidente Fernando Henrique pudesse ser reeleito. Vamos falar de futuro, do que as pessoas precisam ouvir, o tempo é valioso. Eu acho que o PT concorda conosco, porque governou por 12 anos e não tentou em hora nenhuma reabrir o processo. Por que é que não tentou investigar isso de novo? Estava com o comando de tudo isso. Meu Deus, vamos falar de realidade. A realidade é que, no caso do mensalão, os principais líderes do PT e do governo hoje cumprem pena porque desviaram dinheiro público em benefício de um projeto de poder. Ponto. Pergunta da eleitora Maria Quitéria - O que vocês fariam para acabar com a corrupção? Essa, sim, é uma questão...

 Josias de Souza - Só para fazer uma inflexão sobre a pergunta dela: o Kennedy fez uma observação e não é possível negar a realidade. Esse tipo de composição política em que o partido oferece apoio congressual em troca de cargos ocorreu no governo do PSDB. O Renan Calheiros foi ministro da Justiça do Fernando Henrique. Isso não é história. O Jader Barbalho mandava e desmandava na Sudam (Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia), houve desvios lá muito expressivos. Mas quando um partido como o PTB adere à sua candidatura, não é por altruísmo. O que se deseja é que o senhor responda como isso será diferente no seu governo. Começo respondendo a você para chegar à pergunta: vai ser exatamente como foi no meu governo de Minas. Durante oito anos em Minas Gerais eu governei o segundo estado mais populoso do Brasil com absoluta transparência, transformando o estado em um estado proativo –Minas Gerais é o único estado brasileiro onde 100% dos servidores são avaliados por desempenho, têm metas a serem cumpridas e, se alcançam essas metas, são remunerados com 14º salário no final do ano. Com isso –para não cansá-los com propaganda de Minas Gerais, mas ela é real–, Minas tem a melhor educação fundamental do Brasil e tem alguns dos melhores indicadores de saúde: o quarto do Brasil, perdendo apenas para os indicadores do Sul, e o melhor do Sudeste. O quadro político não pode ser desqualificado e desconsiderado por ser político. Eu acho que você pode buscar, sim, em quaisquer partidos, quadros que ache qualificados para ajudá-los a governar. O que você não pode é criar feudos. Entregar nacos de poder como entregou o governo do PT a estruturas carcomidas do Estado brasileiro. Mesmo dentro do próprio PT. O que fizeram com as agências reguladoras, Josias, do Brasil? Viraram instrumentos para cometimento de crimes. O que fizeram com alguns dos ministérios de porteiras fechadas, onde aqueles que são faxinados voltam pelas portas dos fundos e acabam mandando de novo nesses ministérios? Eu tenho uma história de vida. O que eu tenho a oferecer ao Brasil é a minha história. São as minhas convicções. E nós temos que acabar com esse sentimento de impunidade que graça no Brasil hoje. Por isso, eu defendo uma reforma do Código Penal, uma reforma do Código de Processo Penal e que o governo central, o governo federal, assuma o controle e apresente ao Brasil uma política de segurança pública que não existe hoje. Vocês vão se lembrar, eu ouvi há alguns anos atrás o ministro da Justiça dizendo que as nossas cadeias eram "masmorras medievais" –acho que era essa a expressão que ele usou. Passaram três anos desse governo e você sabe quanto foi executado do Fundo Penitenciário aprovado pelo Congresso no orçamento? Sabe quanto o ministro utilizou para transformar nossas "masmorras medievais" em algo minimamente digno? 10%. Sabe quanto do orçamento da área de segurança pública foi executado por esse governo? Menos de 40%. Isso é uma demonstração clara que esse governo não trata a segurança pública com a prioridade que ela deve ter. E segurança pública não é apenas responsabilidade dos estados: controle das fronteiras, tráfico de drogas e trafico de armas são de responsabilidade constitucional do governo federal, que prefere terceirizar, transferir responsabilidade aos estados, do que tomar uma atitude corajosa de conduzir, de articular as políticas públicas de segurança.   Patrick Santos - Um assunto muito debatido na campanha de 2010 foi a questão das privatizações. O senhor vê mais espaço para privatizações? Qual o projeto do PSDB para essa área? Na minha avaliação, o que tinha que ser privatizado foi privatizado. Você imagina o setor de telecomunicações hoje sob a gerência do PT? Você imagina a Embraer hoje tendo como indicado um prócer do PT? Quem ia indicar um avião da nossa empresa, talvez a mais competitiva que exista hoje no mundo? Ou na área de siderurgia? As privatizações que foram necessárias foram feitas. O que eu vou fazer quando assumir o governo, se vencer as eleições, é reestatizar empresas públicas que foram privatizadas por interesses escusos. A Petrobras será devolvida aos brasileiros. Nós vamos estabelecer a meritocracia na gestão pública. As pessoas não vão ocupar cargos do governo em razão da simples indicação ou sobretudo com baixa qualificação, que é hoje uma marca desse governo. Nós vamos reestatizar e entregar novamente as empresas públicas aos brasileiros, porque o Estado brasileiro, cada vez mais, vem servindo a um projeto de poder de um grupo político que abdicou de ter um projeto transformador de país. E é o caso de se perguntar o porquê de manter esse projeto de poder. Para piorar ainda mais a situação da saúde, da educação, da segurança pública, da economia?   Pergunta da plateia - Hoje a política de preços da Petrobras é reprimida pelo governo. O senhor vai liberar o preço da gasolina? Os equívocos em relação à Petrobras foram muitos. Desde a mudança do processo de concessões, do sistema de partilhas que deixou o Brasil cinco anos fora do mercado no período em que US$ 300 bilhões foram investidos em petróleo no mundo e o Brasil não participou com R$ 1 desses investimentos até as nomeações políticas e o aparelhamento da empresa. A Petrobras hoje frequenta mais as páginas policiais com Pasadena, com a refinaria Abreu e Lima, do que as páginas da economia. Eu não tenho ainda o conjunto das informações necessárias para dizer o que vai acontecer, mas vou repetir o que será uma marca tanto na Petrobras como em outras áreas do governo: a previsibilidade, nós teremos regras claras. As pessoas vão saber exatamente o que vai acontecer com os preços e o que vai acontecer do ponto de vista fiscal.   Patrick Santos - O senhor vai rever o modelo de partilha? Eu quero rediscutir à luz do dia, sem teses ideológicas, o que isso (modelo de partilha) trouxe de benefícios ao país. Em que circunstâncias eventualmente ele pode ser mantido? Eu quero avaliar isso. Eu quero ter uma discussão ampla com a sociedade. Eu quero avaliar isso.

Josias de Souza - Pode voltar para o modelo anterior, senador? Eu quero ter uma discussão aprofundada com especialistas e com a sociedade sobre os eventuais benefícios que esse novo modelo trouxe. Ao mesmo tempo em que a Petrobras é demandada para fazer investimentos, ela é garroteada em seu caixa por essas medidas de política econômica, que nada mais é do que o atestado de inaptidão do governo em conduzir a política macroeconômica controlando a inflação e utilizando a Petrobras para esse fim.

 Josias de Souza - O senhor não exclui a possibilidade de voltar para o modelo anterior. Se eu disser isso agora, estou antecipando um cenário que pode não ocorrer, porque o modelo de concessões foi um modelo benéfico para o Brasil, foi quando trouxemos parceiros privados de várias partes do mundo. Foi quando tivemos os melhores e maiores investimentos antes obviamente do pré-sal.

 Ricardo Balthazar - O senhor acha que a Petrobras não tem condições de dar conta sozinha? É o que o atual governo diz, que o modelo anterior dava muito espaço para parceiros privados e empresas estrangeiras em detrimento da Petrobras. Vamos fazer essa discussão, pode estar seguro, à luz do dia. E a decisão, que não será tomada por mim, será tomada eventualmente, se acharmos que seja o caso, pelo Congresso Nacional, com a participação da sociedade.

 Kennedy Alencar - O Eduardo Campos disse, na sabatina anterior, que manteve um discurso só durante a Copa, sem oscilações, insinuando que o senhor e a presidente Dilma mudaram de posição ao longo da Copa. A oposição exagerou nas críticas nesse excesso de pessimismo em relação à Copa? Outra pergunta: quando o governo cogitou uma intervenção estatal no futebol, o senhor disse que o Brasil não precisava de uma "Futebras". Acontece que os nossos cartolas –o

Ricardo Teixeira [ex-presidente da CBF], com quem o senhor tinha boa relação, e o Lula também tinha, e o José Maria Marin [atual presidente]– são atrasados, não é? Com práticas piores que as da política. O senhor admite algum grau de intervenção, além de responsabilidade fiscal para o futebol, como uma agência reguladora? Começo pelas boas relações: tenho boas relações com muita gente. Todos nós aqui temos boas relações. Não vamos compreender isso além do que isso significa. Em relação à Copa do Mundo, eu acho que o Eduardo se referiu à presidente da República, que tentou surfar o quanto pôde no êxito da seleção. Eu fiz o que eu tinha que fazer, exatamente o que faria não sendo candidato. Fui ao campo com minha filha, vi o jogo, torci, não acreditei naquele 7 a 1. Eu gosto de futebol, jogo futebol até hoje. O que vi foi uma tentativa desesperada do governo de se apropriar a qualquer custo do êxito da seleção. E vou citar algo aqui que não tinha dito antes: eu achava que, no sábado, quando o Brasil disputava o terceiro lugar em Brasília, a 500 metros, 1.000 metros no máximo do Palácio da Alvorada, eu achava, sinceramente, no meu íntimo, que pela manhã a presidente iria pegar no telefone e convidar os membros da comissão técnica e os jogadores para tomar café da manhã com ela. [Eles] Lutaram. Se ganharam ou perderam, não quero entrar nesse mérito aqui, porque certamente se tivessem ganho ela seria a primeira a estar lá para cumprimentá-los. Eu teria feito isso. Sinceramente, teria. O senhor acha que ela não fez para se descolar? Para se descolar. Foi uma tentativa de utilização política da Copa.

 Ricardo Balthazar - Mas senador, o senhor foi duas vezes aos estádios sem avisar. Por que o senhor não avisou antecipadamente que iria? Porque eu fui como torcedor. Eu queria assistir o jogo. É claro. Obviamente. Eu não podia ir escondido. Eu fui como torcedor, fui com minha filha, fui com minha família. Até porque onde eu estava não tinha nem como levar imprensa. Fiz como eu deveria fazer. Eu fui assistir aos jogos.

 Patrick Santos - O senhor vai refinanciar a dívida dos clubes ou não? O que eu acredito e é necessário é que haja uma lei de responsabilidade para o esporte. Agora intervenção estatal, aquilo que propôs o ministro Aldo Rebelo [Esporte]? Felizmente, eu devo dizer, mais uma contribuição minha à presidente da República, que foi no seu Twitter dizer que não criaria a Futebrás, até porque, se criasse, seria a 14ª empresa criada pelo governo do PT e a 7ª só no seu governo.

Josias de Souza - O presidente Fernando Henrique fez um artigo ontem no qual ele se queixou dos ataques que o presidente Lula tem feito a ele. Nesse artigo, ele diz que, nas viagens que fez ao funeral do Nelson Mandela, em conversa com o Lula, propôs que as forças políticas se juntassem para corrigir o que há de malfeito na política brasileira. O senhor acha que ainda é possível que PSDB e PT se juntem e, em vez de ficar jogando lama um no outro, tentem corrigir o que há de malfeito ou essa fase já passou? Eu gostaria de viver um tempo onde os homens de bem e as mulheres de bem da política pudessem se unir em torno de um projeto de Brasil. Quando eu falo que não busco vencer as eleições para impor uma hegemonia do PSDB, falo com absoluta sinceridade. Quero acabar com essa bobagem e ação perversa do governo de querer sempre dividir o Brasil entre nós e eles. Os que bajulam o governo somos nós, os que criticam o governo são eles. O Brasil precisa de uma nova convergência.

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